terça-feira, 25 de novembro de 2008

MAGIA DA COMPOSIÇÃO

A confusão dessas imagens incessantes

a que a razão dá uma clareza pulsante,

assim como após a maré cheia vem a vazante,

e podemos encontrar na areia

tudo o que o mar da imaginação abandona ao pensamento

em sucessivas ondas, a cada momento,

conchas e estrelas, versos e fragmentos

de um discurso amoroso ou de um método,

ou a idéia de um poema no seu todo,

ainda que as cinzas das palavras obscureçam

a fosforescência das imagens

ou nos entonteçam com a fogosidade de ondas selvagens,

dando brilho com a luz da lua fria de um estilo escorreito

à opacidade dessas miragens de que o poeta é objeto e sujeito.

E a imagem, ao encontrar o seu sentido,

desaparece no pensamento como a água na areia.

O resto reflui, perdido, ao mar,

ao qual já não se deve escutar,

incessante canto de sereia.

Só o que importa, agora, é trabalhar o que ficou na areia,

e com este material levantar o castelo do poema,

edificando, com a despreocupação de uma criança,

fonema a fonema,

mas com o conhecimento do arquiteto,

para não afundar os alicerces, nem elevar demais o teto.

Fixando cada canto, cada contorno,

com o cuidado de um marceneiro que trabalha no seu torno

a madeira de um navio para uma viagem sem retorno.

O poeta, no poema, dele mesmo esquece,

assim a criança no seu castelo de areia não vê que escurece

e, em torno deles, a noite e a morte se tecem.

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