segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Advertências aos candidatos a escritor ou quase sempre é outra coisa

Gilberto Wallace Battilana

Se você é um(a) dos(as) que sustentam a exaltada esperança de vir a ombrear com um Érico Veríssimo, uma Clarice Lispector, um Jorge Luís Borges, uma Virgínia Woolf, um Saul Bellow, uma Simone de Beauvoir, um Gabriel Garcia Marques, uma Marguerite Yourcenar, um Lawrence Durrel, uma Susan Sontag, escolha conforme as suas preferências literárias, quem sabe, um Mário Quintana, uma Cecília Meireles, um T.S. Elliot, uma Sílvia Plath, um Jacques Prévert, uma Florbela Espanca, um Fernando Pessoa ou Rainer Maria Rilke, pense antes se não está confundindo a sua paixão pela Literatura com a de ver a sua fotografia em jornais e revistas. Não veja na vontade de aparecer a paixão por escrever. Pense na solidão de Kafka, na loucura de Lima Barreto, e resista o mais que puder antes de colocar-se frente a uma folha de papel ou à tela do computador para imprimir os seus sentimentos, as suas idéias, a sua insatisfação com a vida ou o seu prazer de viver, o fora que levou da(o) namorada(o), as despesas com a(o) amante. Literatura pode ser tudo isso, mas quase sempre é outra coisa. Se for insopitável a sua ânsia por escrever, escreva. Mas só se não puder fazer algo mais produtivo ou prazeroso como jogar na bolsa ou no bingo, comer pizza, encher a cara nos bares da Goethe ou da Lima e Silva ou assistir televisão - que, conforme afirmava Marx, o Groucho, é algo muito educativo; a cada vez que vejo ligarem uma, saio da sala, e vou ler um livro.
Se escrever, leia o que escreveu. Se achar bom, que é o que quase sempre acontece, ofereça para alguém ler. Dê preferência a um(a) amigo(a) sincero(a). Além de sincero(a) ele(a) deve ter lido pelo menos uns dez livros durante a vida. É quase certo que você deixará de ser amigo dele(a) depois de ouvir a crítica a respeito de seu texto. Se ele(a) disser que é ruim, não se convença, mostre a outros. Se não encontrar ninguém que lhe dê um sorriso de simpatia ou uma palavra de incentivo, desista. Faça como Getulio Vargas com o seu romance “O Revolucionário”, rasgou-o em respeito à literatura. Se imitar Vargas, quem sabe você acabe Presidente. O Lula que não escreveu nada, conseguiu, por que você não? Se bem que outro, que escreveu uma porção de livros e..., mas deixa pra lá, esse não é o nosso assunto.
Voltando ao seu texto, se lhe disserem bom, leve-o a uma editora. É quase certo que não será publicado, a menos que você pague a edição. Mas o tempo que ficar o texto com o editor lhe permitirá refletir e você quer mesmo publicar o que escreveu, se a literatura é mesmo a sua vocação, o seu destino. Lembre-se que muitos são os chamados, poucos os aceitos. Passado o tempo, dois meses ou dois anos, dependendo da capacidade da sua paciência, e não lhe devolvendo os originais o editor, que é o que quase sempre acontece, a menos que você o ameace com um processo por apropriação indébita, pegue uma das cópias que você deve ter guardado e releia o que escreveu. Se ainda achar publicável, leve-o a um crítico. Não digo que seja fácil. Os críticos, quase sempre professores universitários, são refratários à originais de escritores desconhecidos. Se o crítico lhe disser que é razoável, que bom jamais dizem ser, vá em frente. Pague a edição, prepare os vinhos e os queijos – assim via mais gente – que lançamento de livro nesse nosso meridiano – faz parte da nossa estética do frio, deve ser lançado no outono ou no inverno. Não esqueça de levar exemplares para os resenhistas dos jornais, exemplares sem dedicatória, é claro. Quem sabe, assim, você aumenta a fila que espera para a sua noite de autógrafos. Quase sempre não aumenta. Não publicarão uma linha a respeito do seu livro, mas você terá se livrado de uns cinqüenta exemplares. Quase sempre lhe será negada a oportunidade para mostrar o seu livro e convidar o público, ainda assim tente ser entrevistado(a) em programas de rádios e televisões. Depois de todo o esforço para lançar o seu livro, finda a sua noite de autógrafo, os seus quinze minutos de fama, a sua entrada na literatura, considere-se um escritor e vá dormir reconfortado pelos confetes da glória, sem esquecer de reservar um espaço no seu apartamento para guardar os exemplares encalhados da edição do seu livro.

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