sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

LEMBRANÇA

poema de Gilberto Wallace Battilana

E amamos, amamos, amamos
no calor das areias do verão
ou no avermelhado inverno,
se é que amar é isto:
o roçagar de carnes
no consentimento dos corpos,
a cada ensejo o ensaio de um beijo.
As ondas lavando troncos insubmersos
ao entardecer que cercava o nosso regresso
ou a tarola suave da chuva na janela
a desenhar corolas singelas na vidraça
por onde víamos a cansada estação ancorar
sentados no sofá contra o fogo aceso
sentindo no coração o doce peso
aumentar a cada instante de descoberta
e, pela porta aberta, deslizantes as horas
fugiam, afogando-se nas poças
do pátio escuro e deserto, onde maduros
frutos aclarados por relâmpagos,
pareciam estranhos pássaros presos
nas gotejantes gaiolas das árvores,
ou o sopro do sudeste quente sufocando
a manhã embalsamada em seus trapos de luz.
Caminhávamos na multidão da areia,
aqui e ali uma flor caída, mas ainda desperta,
um peixe ofegante num raso túmulo d´água,
e erradias cigarras de asas molhadas,
ou por entre frias estrelas e ervas dobradas.
Adivinhávamos mais um verão
numa lembrança, até que viesse outro.

2 comentários:

Mara faturi disse...

belo poema e imagens..
gostei daqui, voltarei,
bjo

Sidnei Schneider disse...

gostei das postagens do teu blogue.
abraço